Ellis odeia cinema. Adora filmes, apenas odeia as pessoas que vão ao cinema. Falam alto, deixam celular ligado, comem pipoca de boca aberta, chupam a Coca-Cola pelo canudo até sobrar só o barulho do ar. Realmente um nojo.
Mas Ellis ama encontrar seus fiéis amigos, então foi. Cinema ao ar livre, filme do Wes Andersen, clima bom, bom papo. Logo no início, uma briga por lugares. Um esquerdinha caviar da pior espécie, se fazendo de cool, mas nervosinho querendo sentar e sendo grosseiro com a menina do lado. Ridículo. Brigou na hora e tentou esquecer. Afinal ela não poderia sozinha limpar a cidade inteira. Mas ficou irritada.
Saindo do filme, foram a um bar. Naquele dia Ellis não podia comer muito, nem beber. Ela adora beber. Mas quer emagrecer. Isso a irritava mais ainda. O garçom era mal-educado. Tratou mal sua amiga. E passava com bandejas cheias de petiscos que Ellis não podia comer. Um canalha. O segundo do dia. Aquilo era um sinal.
Isaac era seu nome. O garçom. Flamenguista, mais um sinal. Perdeu pro Botafogo, por isso mau humor com os clientes. Perderia a vida por um time de futebol. Acontece. Não se perderá grande coisa. Isaac era burro, misógino e flamenguista. Seria uma boa limpeza.
No fim da noite, Ellis foi animada pra casa. Era a melhor fase. A preparação. Teve uma ideia. Ao chegar no prédio, mandou mensagem pros amigos. Cheguei bem! Queridos, pensou. Mal sabem, riu. Acordou o porteiro fez questão que ele a visse.
Trocou de roupa, esperou o porteiro dormir de novo ele sempre dormia e saiu caminhando. Sabia que o restaurante ainda estaria aberto e caminhou feliz e incógnita de volta a Bolívar.
Parou na Galeteria. Comprou um galeto. Comeu com gosto. Matar queima calorias. Ou não, vai ver por isso sempre brigava com a balança. Guardou os ossos. Bem fininhos.
Isaac fazia baldeação na Central. Ellis não sabia disso. Mas quando entrou no ônibus atrás de Issac decidiu que o mataria antes do aterro do Flamengo. A essa hora seria um incômodo voltar pra casa. Deu sorte. Isaac estava sozinho. O ônibus quase vazio.
Ellis adora Nelson Rodrigues, e já havia usado o Dama do Lotação em outras limpezas, como ela chama. Aproximou-se de Isaac, que burro e distraído, não se lembrou de Ellis do restaurante. Morreu de Flamengo e de burrice.
Ellis se insinuou e foi fácil ganhar sua atenção. Disse que lhe daria algo inesquecível. Isaac estava irritado e cansado do trabalho e achou que era aquilo era uma recompensa. Uma mulher bonita, no ônibus, se oferecendo. Parecia bom demais pra ser verdade. E era, mas Isaac era um idiota. Concordou em fechar os olhos e abrir a boca. Entravam na Princesa Isabel.
Ellis é forte. Matar homens pode ser difícil. Por isso o remo 4 dias por semana.
Rapidamente enfiou os ossos de frango quebrados na goela de Isaac e fechou sua boca com as duas mãos. Ao mesmo tempo puxou sua cabeça pra baixo com a força do braço e a segurou forte em seu colo. Passou as pernas por cima das pernas de Isaac e antes que ele pudesse reagir já estava imobilizado.
Não demorou muito e lágrimas desceram pelos olhos de Isaac, uma gosma amarelada saía por sua boca. Os olhos estavam arregalados, ofegava, já não podia respirar. Deixou-o assim, sofrendo por alguns minutos, gostaria de vê-lo agonizar por mais tempo. Mas já estavam na Praia de Botafogo e não queria passar do Centro. Pegou com uma das mãos o osso afiado que guardara em seu bolso e enfiou na garganta de Isaac abrindo um buraco profundo. Usou o braço para manter sua boca fechada e com as duas mãos forçou até que o pedaço de osso tivesse entrado completamente em sua garganta.
Só foi morrer na Gloria. Isso chateou Ellis. Passou um pouco do ponto. Maldito Isaac.
Jogou o corpo na poça de sangue que já se formava no chão do ônibus e desceu na altura da Praça Paris. Os outros 2 passageiros dormiam. Usou a toalha na mochila para se limpar um pouco, trocou de roupa, largou a mochila e as roupas ensanguentadas com um mendigo qualquer e entrou no taxi pra casa.
Ainda estava suja de sangue, mas àquela hora da noite seria difícil alguém perceber. Por precaução, desceu na Sa Ferreira e andou o resto do caminho. Ninguém na rua. Vantagem de cidade violenta. Ellis tem uma arma, obvio, mas só para defesa. Para suas limpezas gosta de usar a criatividade.
No banho em casa, sentiu o sangue de Isaac escorrer por seu corpo. Dormiu profundamente depois.
Foi um belo domingo de cineminha com os amigos.