Aliás, nunca sozinhas
Uma aliá não pede permissão para ser uma aliá.
Ela não se desculpa por suas passadas largas nem por sua visão ampla da savana. Ela não acha que está tirando vantagem dos outros animais por conseguir pegar água com sua tromba e beber sem se curvar. Beber água de cabeça erguida é uma característica de uma aliá.
Não há sentimento de inadequação nem repreensão por seu barrir. Ela não disfarça sua força. Se for necessário arrancar as árvores do seu caminho, ela o fará, afinal, ela é uma aliá, como foi sua mãe e como serão seus herdeiros.
As aliás vivem em sociedades matriarcais. Mães e tias cuidam de filhotes de diferentes idades; as mães podem descansar porque a manada cuidará da prole. Esses animais majestosos possuem ótima memória e não são julgados por seu conhecimento adquirido.
Ter conhecimento é conseguir caminhar por grandes distâncias em busca de alimento e água, na certeza de que sua sabedoria levará o grupo até o que precisa. Ter e transmitir conhecimento é o que faz com que as aliás sobrevivam.
Aliá, de origem cingalesa, é a forma de se referir às fêmeas dos elefantes.
Este texto não é sobre elefantes.

Claudia Vecchi-Annunciato é escritora, bióloga, mestre e doutora em Botânica. Pedagoga e especialista em Gestão Escolar, com mais de 30 anos de experiência na área da Educação. Membro da Associação de Jornalistas e Escritoras/núcleo São Paulo (AJEB-SP) e da Comunidade de Escritoras. Madrinha do projeto Meninas na Escrita. Seu primeiro romance, “Próxima aula”, apresenta partes da sua experiência como educadora.