“Um corpo caído na clareira, a luz das estrelas o revela.” Assim começa este romance que, apesar de sua introdução contundente, não tem nada de crônica policial nem de história de terror.
Trata-se do Filhas de Gaia de Linei Matz, uma obra no gênero da ficção científica, mas que pode ser lida como um folhetim que entretém e faz pensar ao mesmo tempo.
No pequeno planeta Gaia, vive uma sociedade majoritariamente feminina – por conta de uma mutação genética, poucos homens nascem lá. Essa sociedade emula a vida em um mundo utópico, no qual se respeita e se prioriza a natureza e o feminino como princípios da criação e do sustento da vida.
Ser mãe em Gaia é um motivo de status. As necessidades dessas mulheres, que escolhem dar à luz para perpetuar a espécie, são levadas muito a sério.
Desde a forma livre de pesticidas de cultivar seus alimentos, feita quase exclusivamente em estufas nos fundos dos terrenos das casas, até o material totalmente natural utilizado na confecção de roupas e na construção de edifícios. Tudo ali conversa com a natureza.
A própria religião que as pessoas seguem, vem dos primórdios da humanidade, quando as tribos de coletores-caçadores adoravam uma Deusa- Mãe, cujo corpo é tudo o que podemos ver e tocar. É a água, o ar, as plantas, os animais, os seres humanos, o solo, as rochas. É o próprio planeta.
A história se passa no Vale do Norte, quase dois mil anos depois de as primeiras expedições chegarem em busca de uma nova vida, ao mesmo tempo em que planejam um recomeço livre dos vícios da mentalidade patriarcal e predatória do Planeta Original.
Nessas primeiras expedições, por conta do clima ainda não adaptado para que pessoas pudessem viver em Gaia, vieram os autômatos – máquinas ou robôs com mente humana, encarregadas de iniciar o infindável trabalho de adaptação da terra, dos mares e da atmosfera.
Em seguida, chegaram as Gêmeas Ancestrais, que carregavam consigo uma mutação genética responsável pelo baixo número de nascimentos de homens.
Em poucas gerações, a sociedade passou a ser majoritariamente feminina, o que se reflete na linguagem usada no romance: sempre que possível, o feminino é priorizado sobre o masculino. Veja alguns exemplos: quando há uma mulher em um grupo de pessoas, mesmo que as demais sejam cinco ou dez homens, os pronomes escolhidos estarão no feminino (elas, aquelas, etc.). Pai e mãe são ‘mães’; irmão e irmã são ‘irmãs’. E assim por diante.
O plano de se viver em uma sociedade utópica, parece estar dando certo. Apesar de alguns conflitos aqui e ali, afinal ninguém é perfeito, vive- se em harmonia no vale e em seus arredores.
As crianças são educadas com a mentalidade cientificista em busca do bem comum, cientes da interdependência de todos os membros da comunidade; as questões mais importantes são decididas pelo Conselho das Sábias; Gaia finalmente parece favorecer a vida humana em sua expressão mais elevada.
Até que naves estranhas estacionam acima do Mar Borealis e deixam no planeta um grupo encarregado de convencer as locais de que o ranço patriarcal e predatório do Planeta Original ainda é a melhor forma de se viver.
Será que as Filhas de Gaia conseguirão defender seus valores e evitar que o planeta se torne um segundo desastre da ação humana? Ou aquele corpo do início da história não estaria tão morto assim?
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